Minha experiência com o álbum Senjutsu e o consumismo imediato

Capa do álbum Senjutsu

Pandemia: quase ninguém está bem nesse período, seja financeira ou psicologicamente. Resolvi então me dar um presente, acho que o primeiro em 2021: dia 3/09, comprei online o novo álbum do Iron Maiden, Senjutsu, e uma caixinha com 4 cervejas The Trooper. Dia 04 pela manhã, chegaram aqui em casa. Prometi que largaria trabalho, guitarra, pensamentos aleatórios e faria um momento de degustação, do álbum e da cerveja. Assim o fiz sábado à tarde, no quintal da minha casa, vendo algumas folhas de que se mexiam lentamente nos galhos das árvores, e o céu ainda azul que estava por de trás delas. Ouvi desde a abertura com a fantasmagórica faixa título, até o encerramento com a bela Hell on Earth, que terminou enquanto o céu começava a dar sinais de que ia escurecer. O álbum é denso, sombrio, e até um pouco difícil de ouvir sem se propor a estar conectado. E que experiência maravilhosa poder fazer isso, esquecendo todas as desgraças que estão acontecendo no mundo! Ouvi outras vezes com o passar dos dias, e cada vez mais o álbum foi crescendo e tomando forma. Já começo a lembrar de solos e melodias, sentindo-me cada vez mais familiarizado. Mas não foi algo forçado: apenas me permiti admirar a arte como ela deve ser: degustada aos poucos, sentindo cada sabor, para aí sim, avaliar se gostei genuinamente ou não. Durante a minha adolescência, passei horas e mais horas estudando guitarra e ouvindo álbuns clássicos, que foram adquiridos com muita dificuldade às vezes. Por isso, eram degustados como uma iguaria: Houses of the Holy, do Led Zeppelin, Selling England by the Pound, do Genesis, ou Master of Puppets, do Metallica. São álbuns que cada vez que ouço, mesmo depois de anos, algum elemento que passou desapercebido surge, ou nascem novas sensações e perspectivas, afinal, eu não sou o mesmo de 1 semana atrás, quem dirá de 5, 10, 15 anos atrás.

Dito isso, vem o ponto que quero abordar sobre Iron Maiden. Eles também não são mais os mesmos. E que bom. O Iron que surgiu cru em seu disco de estreia, não era o mesmo que lançou o melódico Powerslave, que não era mais o mesmo que lançou o progressivo Seventh Son of a Seventh Son. Aos poucos eles foram mudando, experimentando novos elementos, e tais mudanças ficaram mais explícitas a partir do álbum Brave New Word. Comecei a acompanhar os lançamentos da banda em tempo real a partir do álbum A Matter of Life and Death, onde a banda meteu o pé de vez no rock com tendências progressivas e músicas grandes. Mas nada surpreendente, visto que em toda a discografia da banda tem músicas que passam 8, 9, 10 minutos, e trechos mais “viajantes”, como no meio da Rime Of The Ancient Mariner. Essa mesma tendência continuou nos álbuns The Final Frontier e The Book of Souls. Então eu pergunto: qual a surpresa com o álbum Senjutsu? Desde quando o Iron soltou o primeiro single, The Writing on the Wall, abriu-se a tampa de um bueiro, e o que saiu dali em forma de comentários nem sempre foi inteligente. Conforme vieram informações do álbum, capa, data, o segundo single, Stratego, e a duração das 3 últimas faixas do álbum, li comentários como “nem ouvi o álbum e já sei que é uma merda”. Entenda bem, não é tirado o direito de ninguém de não se afeiçoar a uma obra, seja um livro, um filme, ou um álbum, mas para que isso seja feito é preciso ter contato com a mesma, e não de forma superficial! São músicas grandes e por vezes complexas sim, qual o problema? Quantas vezes você viu o mesmo filme mais de uma vez para poder entender uma história? Quantas vezes leu mais de uma vez um livro e notou diferentes elementos? Arte não é obrigatoriamente imediata. Pode até ser, mas isso não é regra. Li que teve gente editando o álbum, encurtando as músicas, em tão pouco de tempo de lançamento. Será que realmente a obra foi ouvida com a devida atenção, dando a mesma tempo de maturar nos ouvidos? Seria correto arrancar páginas de uma obra literária ou mudar as cores de um quadro de outrem? Chego a achar um desrespeito para com o artista e para com a sua obra. Outras pessoas reclamaram que não é um clássico. Como poderia ser um clássico em tão pouco tempo? E qual o propósito de tal comparação? Toda obra precisa nascer sendo revolucionária? Será que não é possível apenas aproveitar e curtir o que a mesma tem para oferecer? Seguindo esse raciocínio, se você faz uma viagem maravilhosa para o exterior, não pode curtir e estar feliz tomando um sorvete sentado num banco de uma praça bonita.

Por fim, li algumas resenhas estrangeiras, que diferentemente das daqui que reclamaram pifiamente da linha de guitarra, de uma nota no teclado, da capa que devia ter um cenário, chamavam a atenção para a beleza do álbum, para como é legal ver uma banda de 40 anos de carreira ainda querer ousar, e se necessário, e mostravam com bons argumentos o porquê que alguma faixa não agradou ou porquê achou o álbum fraco.

Obs: li por volta de 5 ou 6 resenhas sendo bem favoráveis e 1 dizendo que o álbum não agradou muito.

Um álbum musical, seja lá de qual estilo, não pode ser música de fundo para momentos de outras atividades, caso você queira realmente viver a experiência e absorver a obra. Lógico, é direito seu botar um som para fazer outras coisas, mas são formas diferentes de usar e absorver arte. Assim, chego a conclusão que o headbanger brasileiro, o fã de uma banda, é uma espécie de hétero top que fala de mulher com estria: ele gosta mesmo é de reclamar, seja lá do que. Que possamos ter opiniões diversas, mas que elas sejam discutidas com educação, bons argumentos e que possamos reaprender a apreciar a arte com o respeito e a atenção que ela merece.  

O Verdadeiro Sepultura

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     Quando o Sepultura lança um álbum novo, sempre leio esse comentário em algum lugar: “Esse não é o verdadeiro Sepultura”. Bem, e o que seria esse tal de “verdadeiro” Sepultura? Sempre há a explicação de que sem os irmãos Cavalera não é Sepultura, etc, etc. Ora! Se formos na essência de tudo, esse Sepultura “verdadeiro” era o que tinha Wagner Lamounier, ou o Jairo Guedez (que gravou o álbum Morbid Visions). Levando o mesmo raciocínio para outros casos, o “verdadeiro” Deep Purple acabou com a entrada do Ian Gillan e o verdadeiro Iron Maiden acabou com a saída do Paul Di’Anno. Então, podemos falar que gostamos mais da fase X ou Y sem problemas, mas essa de “verdadeiro” soa sem fundamento. O pilar central da banda atualmente é o Andreas Kisser, grande guitarrista que entrou no segundo álbum Schizophrenia, ajudando a forjar o estilo thrash que passamos a associar ao Sepultura. De todos dessa formação que ficou tida como “clássica”, Andreas é o que mais estudou música, tocando muito bem violão e tendo um gosto musical muito rico, indo desde MPB, passando pelo classic rock do Queen, o metal clássico do Sabbath e Judas, até o extremo do Venom. E isso pode ser notado na evolução musical da banda nos álbuns seguintes, que começaram a ser mais “bem tocados” e a ter influências brasileiras. O Sepultura ganhou o mundo com Arise, Chaos AD e Roots, aí Max saiu. Essa história todo mundo sabe, e a banda continuou com Derrick Green nos vocais. A banda perdeu confiança de muitos fãs, do mercado, além de perder toda sua estrutura. Não estou fazendo juízo de valor de “certo ou errado”, apenas constatando que num primeiro momento, todos “perderam”. Max demorou um pouco para estabilizar o Soufly e fazer grandes álbuns e o Sepultura também. A diferença era o peso do nome Sepultura carregado pelos pacientes Andreas, Paulo e Derrick (o quanto esses caras responderam sobre reunião, sem serem deselegantes, não pode ser mensurado). Se avaliáramos o recomeço de cada um (Sepultura e Max), os primeiros álbuns soam ainda perdidos e nas sombras do que foi o Roots. Fazendo um comparativo, essa ruptura seria proporcional a se o James Hetfield saísse do Metallica após a turnê do Black Album. Então não posso criticar pesadamente esse recomeço de ambos. São tentativas, com acertos e erros, e tudo bem. Aí mais uma baixa: sai Igor Cavalera. Pronto: foi instalado o pretexto perfeito de que, sem os irmãos Cavalera, não é Sepultura. Calma lá! E a trajetória do restante da banda, não conta? Ambos saíram por que quiseram. Então entrou o excelente baterista Jean Dolabella, e lançaram o álbum A-Lex. Verdade que desde o álbum anterior, Dante XXI, a banda voltou lentamente a ser respeitada, e ter certo reconhecimento, mas a entrada do Jean deu novo fôlego ao Sepultura. Fôlego esse que veio com a volta do prestígio após o lançamento do excelente álbum Kairos, que se equipara facilmente aos clássicos da banda. O álbum trazia um som mais limpo e voltado para o thrash, e pôde trazer o Andreas “guitarrista” de volta, contendo mais riffs memoráveis, e mais solos de guitarra. Max também tinha se reencontrado em seus belos trabalhos com o Soulfly e o Cavalera Conspirancy, mas ainda assim o fantasma da reunião se mantinha vivo (muito mais devido as declarações ácidas geralmente vindas do Max, sejamos sinceros). Aí veio a grande escolha da carreira do Sepultura, que foi a contratação do monstro Eloy Casagrande! Músico prodígio, bem mais jovem que os demais, que não trouxe sangue novo: trouxe alma nova! A riqueza musical dele, despertou no Andreas todas as outras vertentes que ele sempre carregou consigo, e inspirou mais o Paulo e o Derrick. Então veio The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart. É possível notar a excelência técnica do Eloy e a liberdade que o mesmo teve para tocar. A produção, para mim, soa abafada e embolada para a quantidade de informação que foi colocada nas músicas, mas dava para notar que essa química seria lapidada e viria algo monstruoso. E veio o Machine Messiah. Técnico, melódico, com riqueza rítmica e harmônica nunca vista na discografia da banda. Todos puderam extravasar musicalmente, e o sempre massacrado Derrick, pôde mostrar seu domínio vocal, indo do limpo ao mais gutural, criando climas e interpretações muito condizentes com a temática atual do álbum. Aliás, um ponto precisa ser esclarecido: Derrick é um excelente vocalista, com maior domínio vocal que o Max (“Ahhh, mas ele canta sujo demais!”. E o Max canta igual a Frozen, por acaso?), e mesmo enfrentando preconceito (olhe os comentários no youtube, no clipe música “The Vatican”, e veja alguns deles criticando o fato de ter um negro numa banda de metal), segurou a onda esses anos todos, e é muito legal ver do que ele é capaz.

     Bem, aqui estamos, em 2020, com o álbum Quadra. Em questão de musicalidade, o Sepultura chegou no auge da carreira, misturando todas as suas influências, com tons góticos, muitos elementos de rock progressivo, thrash metal, passagens suaves quase eruditas, e uma evolução sensacional do Andreas Kisser. Ele sempre tocou muito bem, mas acredito que estar com Eloy o inspirou e subiu seu nível de uma forma, que acho que nunca vi antes. Lembro que ele citou gostar muito do álbum A Night At The Opera, do Queen, e guardadas as devidas proporções, ele hoje se encontra num estágio musical com o Sepultura, em que pode explorar esse ecletismo. Enfim, não os conheço pessoalmente, não sou advogado para defender ninguém. Sou apenas um professor de música, apaixonado por blues e rock em geral, e acredito que boas conversas sobre música sempre enriquecem. A história musical de cada um, de cada banda, de cada obra artística pode nos fazer pessoas melhores. Para mim, o Sepultura chegou no seu auge de musicalidade, com seus 2 melhores álbuns da carreira: o citado Machine Messiah, e o atual Quadra. Não estou desmerecendo o passado e a glória (não a Cavalera) de álbuns como Arise e Chaos AD. Mas hoje temos um Sepultura que extravasa tanto tecnicamente, quanto musicalmente, aproveitando o que aprendeu no passado sem ficar preso ao mesmo. Se isso não for verdadeiro, eu não sei o que há de ser.

Queen: dissecando a veia hard/heavy de Brian May

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    Phil Alnselmo, Jeff Loomis, Metallica, Dream Theater, Nuno Bettencourt, Slash. A lista de lendas do hard rock e heavy metal que citam o Queen e Brian May é muito maior do que se imagina. Lembro-me bem de ter minhas revistas de guitarra, e uma em especial continha uma entrevista com May, e dizia que o Queen podia ir de algo suave com nuances de Beatles até algo tão pesado quanto o Black Sabbath, e essa afirmação é verídica. Sei que muitos que não conhecem a obra da banda com mais detalhes, ou quem tomou contato com eles agora devido o sucesso do filme, pode achar isso muito estranho, mas convido-os a virem comigo nesses 10 exemplos detalhados, de quanto esse lado porrada do Brian May, influenciou o gênero ao ponto de ninguém menos que Tony Iommi ouvir o álbum A Night At The Opera, e ser influenciado na composição do álbum Sabotage!

 

    Focando nos anos 70, trago de cara, a canção Keep Yourself Alive! Note que de começo, temos uma introdução com rítmica diferente para época, quase cavalgada, algo que bandas como Ufo começavam a fazer vez por outra, e seria usado a exaustão anos depois por bandas como Iron Maiden! Note os riffs com acordes pesados no refrão, mas também linhas melódicas como arranjo/riff, algo que você vê bastante nos riffs do Metallica, por exemplo.

 

    Ainda no primeiro álbum, uma das mais pesadas da banda: Son And Daughter. Abrindo já com seus experimentalismos vocais, que permeariam a discografia da banda, a música deságua num riff muito pesado, grave, que lembra muito a estética sonora de bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath. Note que até os vocais e a bateria estão mais agressivos que o normal.

    A primeira música do álbum II (o favorito de um tal de Steve Vai), é Father To Son, que já começa um pouco densa, porém com belas melodias e aos poucos vai encorpando mais e mais, até chegar no ápice (por volta de 2:07 min): uma porradaria com riff grave, pesado, solos sobrepostos e tudo que se tem direito. Essa canção e esse trecho principalmente poderia estar tranquilamente no álbum Sabotage, do Sabbath.  Obs: já notou que intro dela, é muuuuuuito parecida com a intro de Surrounded, do Dream Theater?

    Ainda no Queen II, temos Ogre Battle, que possui uma introdução ao contrário, que depois entra no eixo com um riff pesado e bateria moendo tudo! Ouça essa intro, e me diga quantas vezes você ouviu algo assim anos depois. Fora as frases com convenções no meio, que me fazem suspeitar que o Iron Maiden ouviu esse álbum na hora de compor músicas como Phantom Of The Opera…

    Vinda do álbum Sheer Heart Attack, a música Flick Of The Wrist é bem diferente do que a banda costumava fazer: é tensa, com um arranjo meio soturno até. Há uma combinação de notas no riff que ficam brincando, em tensão e resolução, e causam um clima que anos depois ouviríamos muito em várias vertentes do metal, fora o solo cheio de ligados do Brian May. Obs: Atenção ao trecho de 1:54 min em diante!

    Do mesmo álbum, a conhecida Stone Cold Crazy, já coverizado pelo Metallica. Aliás, desde a concepção de seus riffs até os solos, lembram bastante muitas coisas do Metallica. Um fator interessante é que se você procurar sobre a origem do thrash metal, vemos a citação de 4 músicas: Exciter (Judas Priest), Symptom Of The Universe (Sabbath), Fast As A Shark (Accept) e a citada Stone Cold Crazy.

    Em 1975 o Queen lançava seu clássico maior, A Night at the Opera e nele contém uma joia com ares de Black Sabbath, arrastada e pesada, que estava na frente de tudo da época na sua afinação: o bordão era afinado em D, algo conhecido como Drop-D. Anos depois guitarristas como Eddie Van Halen, Zakk Wylde e Jerry Cantrell usariam tal recurso com muita frequência. E essa música é The Prophet’s Song!

    No álbum seguinte, A Day At The Races, após a doce e icônica Somebody To Love, vinha a música White Man, com a guitarra de Brian May rouca e a voz de Freddie com drives mais fortes. Sua levada rítmica remete ao blues, porém é bem mais pesada e climática.

    O álbum News Of The World foi concebido no meio do surgimento do punk, e com isso, o Queen compôs algumas músicas um pouco mais diretas, e uma veio do batera Roger Taylor que inclusive, tocou as guitarras da gravação! Mas deixarei aqui a versão ao vivo do álbum Live Killers, e algo me faz sentir que se estivesse num álbum do Motörhead não faria feio…

    Por último, trago a música Let Me Entertain You, sexta faixa do álbum Jazz, com bastante peso e agressividade, tendo seu riff acompanhando o vocal, e até mesmo um lick bluesy no riff. Quebradeira de bateria, riffs e mais riffs, alavancadas, tudo soa como uma escola de hard/heavy nessa música.

    Espero ter ajudado a você ter uma nova visão sobre o Queen e o guitarrista Brian May, que é uma das minhas principais influências. Se você é do Rio de Janeiro, e quer entender melhor o que expliquei acima, evoluindo na guitarra de uma forma coesa e aprendendo a compor e improvisar melhor, venha para HS GUITAR SCHOOL! Tel: (21) 99120-1660

Slash – Dando o seu melhor no pós-Guns N’ Roses

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    Sei que vou ser xingado por uns, mas ok. Antes de mais nada, quero salientar que sou guitarrista, professor, e não sou fã radical do Guns, então farei uma avaliação com ares um pouco técnicos e mais isentos quanto à banda que lhe deu projeção, porém são opiniões e você pode discordar na boa. 😉

    Slash possui uma grande influência do rock e hard rock clássico dos anos 70, como AC/DC, Aerosmith, Led Zeppelin (essas 3 bem explícitas, tanto na forma de tocar, quanto na postura), e em momentos mais virtuoses, tem influência de músicos como Michael Schenker (Ufo). Sua forma de tocar é calcada fortemente no blues rock, e com isso ele passeia por várias vertentes, do pop ao metal, e todas essas características ficaram explícitas no mega clássico Appetite for Destruction, e nos mais ecléticos Use Your Illusion I e Use Your Illusion II (eu sempre achei que se fosse condensado em um único álbum, seria um registro perfeito). Mas e depois? Veio o fraco The Spaghetti Incident?, sua saída da banda, e 2 álbuns na acunha do Slash’s Snakepit, mas parecia que faltava algo. Essa história começou a mudar em 2002 com a criação do Velvet Revolver, que adicionou ninguém mais ninguém menos que Scott Weiland! Vamos ser sinceros? Ia dar merda essa porra, e deu! Mas não sem antes entregar 2 belos álbuns! O primeiro deles, Contraband de 2004, uma mistura das duas bandas: hora meio Guns, hora meio Stone Temple Pilots, já trazia um Slash diferente, mais pesado e direto do que o normal, como se quisesse se distanciar um pouco da pomposidade dos Illusions. Já de cara vemos isso com a faixa Sucker Train Blues, seguida da Do It For The Kids (essa é muito Stone Temple Pilots), a absurdamente pesada Headspace e os 2 maiores hits da banda, Fall to Pieces (essa poderia ter sido do Guns tranquilamente) e Slither.

   Já no segundo álbum, Libertad, a banda passou a soar mais homogênea, não como suas antigas empreitadas, e sim como Velvet Revolver. E dá pra ver isso já de cara na música Let It Roll. Daí em diante, é uma canção melhor que a outra, num álbum que trouxe algo que se evidenciaria mais e mais nos trabalhos do Slash: refrãos grudentos e fortes, além de solos cada vez mais trabalhados!

    Aí deu merda. A banda deu uma pausa que dura até hoje, e Slash resolveu gravar um álbum solo, mas ao contrário do que uns esperariam, não era instrumental! Era um álbum com seu nome na capa, e participações que iam desde Ozzy à Fergie, passando por Lemmy e por aquele que viria a ser sua alma gêmea musical: Myles Kennedy! Podemos notar aqui, algo impressionante: seja num momento pop, num rock suave, num hard ou num quase thrash, Slash trabalha em prol da música, ao estilo de cada vocalista e sem deixar de ser ele!

    E por falar em Myles Kennedy, preciso dizer algo do meu ponto de vista: Myles é disparado o melhor vocalista que Slash já trabalhou (ao menos tecnicamente falando). O cara canta tudo com perfeição! Assim, surgiu seu segundo trabalho, Apocalyptic Love, com mais uma cassetada de canções fodas, como a faixa título, One Last Thrill (essa poderia estar tranquilamente no Appetite), You’re a Lie, Bad Rain e na que considero a melhor música da sua carreira, tendo equilibrado na mesma tudo que ele já fez na vida, e que mostra como ele evoluiu tecnicamente: Anastasia.

    Lembra que falei sobre refrãos? Em World on Fire a química com Myles chegou num patamar absurdo em que cada música poderia ser single, hit, seja lá como queira, tamanha a qualidade de cada uma, seja em riffs, solos ou melodias vocais. E segue Slash tocando cada vez melhor, seja tecnicamente quanto melodicamente. Vou destacar algumas só pra ajudar…

    E por fim, Slash volta a fazer turnê com o Guns N’ Roses, junto do seu amigo Duff, e veio a ideia de que sua carreira solo seria deixada de lado. E para a minha felicidade (e de muitos), não foi. Tendo gravado as guitarras digitalmente, sei lá que macumba ele fez que parece ter gravado em amplificadores muito bem timbrados, há poucos meses saiu o álbum Living The Dream. É chover no molhado enumerar as boas canções e riffs, mas quero destacar duas em especial:

  • The Great Pretender: Slash sempre foi um cara da Les Paul, e aqui parece que ele quis prestar uma homenagem a um mestre do blues, o saudoso Gary Moore, tanto que ela lembra muito a estética da linda Still Got The Blues. Não há uma nota desnecessária, e a interpretação de Myles parece sair da alma. Pra mim, a melhor música do ano disparada!

  • Boulevard Of Broken Hearts: Soando moderna e com um clima que poucas vezes foi abordado na sua musicalidade, ela começa com um riff em uma corda, que vai se desdobrando até um refrão que explode, um interlúdio extremamente viajante e um solo…ahhhh, que solo! Apenas ouça!

    Pra fechar, afirmo que você pode e tem todo direito de discordar, mas vale a reflexão: Slash é muito mais do que o Guns, e mostrou que o que ele lançou com o mesmo, foi só o começo, pois o melhor ainda estaria por vir. E que continue assim…

Uma das melhores aulas que já assisti (o segredo é literalmente simples)

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    É fácil achar no youtube inúmeras vídeo aulas. De acordes até escalas dos mais diversos sabores. De técnica até canções clássicas. Mas ontem pude assistir uma em especial. Uma aula, em vídeo, do Kiko Loureiro. De começo, ele mesmo avisou que seria uma aula diferente, pois seria voltada para ideias de composição, e confesso que para alguns aspectos, foi um despertar. De começo, Kiko citou sobre se desprender de conceitos, e tocar sem julgamentos: se é complexo, se é simples, se vão gostar ou não…não importa. Esse momento é seu, e o que importa é que sua musicalidade saia, e te agrade, mexa contigo. Dois acordes, uma pentatônica, algumas articulações, e pronto: Kiko começou a compor um tema melódico, variações, e uma frase me marcou: “ um tema simples, mas se bem interpretado, porque não?’’.  Aos poucos, fui conseguindo me conectar com minha própria vida, experiências, leituras, audições…lembrei-me de uma entrevista do mesmo, falando sobre o álbum Temple Of Shadows, no qual foi salientada a influência do rock progressivo, o virtuosismo típico do estilo, mas um trecho muito importante foi elucidado, dizendo que o foco era a composição e a melodia, pois se a música fosse enxugada, ainda sim, funcionaria bem. Bummmm! Nisso minha mente fervilhando, abriu como uma caixa de memórias musicais! Assim como dito nessa entrevista e na aula, tudo pode e soa belo ao começar do simples! Lembrei-me de bandas que sou fã e a forma que atingiram meu ser. O Mr. Big, com suas canções de hard rock cheias de dobras, e solos virtuosos… se enxugássemos esses elementos, ainda assim teríamos uma boa canção. O AC/DC, com seus acordes simples, porém diretos e rítmica gostosa de se ouvir, tem seus solos feitos muitas vezes em 2 desenhos de penta e soam grandiosos, com melodia que te prende e tornam-se clássicas, goste você ou não. Já ouvi inúmeras canções de arranjo hiper complexo, no qual era louvável o conhecimento e informações empregadas pelos intérpretes, mas não sobreviveram em minha alma após a audição. Certa vez, o mestre do blues contemporâneo, Joe Bonamassa, afirmou que sempre busca dar um gancho melódico forte em suas canções, e ainda cutucou alguns músicos de jazz:  “o que muitos deles esquecem, é que as mulheres gostam de ouvir melodias”. Dois grandes músicos dessa área que me cativam, são Miles Davis e Chick Corea, e inúmeras vezes vi  relatos de instrumentistas que tocaram com os mesmos, dizendo que ambos tinham como espinha dorsal de seus temas, a simplicidade. Em Kind of Blue, Miles possui a canção So What, com 2 acordes, e fecha com a canção All Blues, que é realmente um blues, com pequenas alterações.

    O mesmo me veio ao lembrar das bandas de rock/metal que amo: o Metallica chegou em seu ápice técnico e de arranjos complexos, nos álbuns Master of Puppets e And Justice for All, mas a alma estilística, foi sendo apenas incrementada à partir do mais simples e direto Kill ‘ Em All. Rush, com seus arranjos absurdamente quebrados, músicas de mais de 10 minutos, tornam tudo uma canção de audição simples e agradável, graças ao equilíbrio de seu virtuosismo, com ganchos de melodias simples e riffs mais diretos, que te reconectam no momento exato. E até mesmo as bandas que eram calcadas em suas viagens de improvisos, como Led Zeppelin, Deep Purple, possuíam riffs altamente marcantes, e improvisos conectados aos mesmos, que tornavam tudo mais extasiante.

    No fim, mais que teoria ou licks, o que pude aprender é que assim como as coisas mais marcantes e gostosas da vida, a base simples, torna tudo mais fácil, ingênuo e liberto de conceitos, seja lá para qual caminho você queira viajar depois.

Cinco solos em que John Petrucci mostrou suas influências na guitarra:

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    Todos nós sabemos que John Petrucci é um monstro técnico da guitarra, influenciado por Rush, Steve Vai, Satriani, Steve Morse, etc.  Ok. Goste ou não, é algo de se admirar a soma de linguagens que seu estilo inclui. Se por vezes, ele extrapola no quesito  “mil notas por segundo”, o que pode soar meio maçante (ainda mais no Dream Theater, que tem como característica musical uma overdose de informações), por vezes ele demonstra suas outras influências um pouco menos óbvias, soando diferenciado e marcante, como nesses exemplos abaixo:

 

Learning To Live – álbum Images And Words

    O solo de violão de Learning To Live , é dotado de uma influência flamenca do mestre  Al Di Meola, conhecido por misturar palhetadas velozes, a um estilo latino com uma pegada furiosa. Tal característica, influenciou outros mestres de Petrucci como Paul Gilbert e Randy Rhoads. Acha que foi de onde que Petrucci catou esse espírito de palhetar tudo?

 

Scarred –  álbum Awake

    Na introdução desse bela canção, Petrucci passeia com uma pegada bem diferente do que acostumamos ouvir:  licks e frases melódicas calcadas no blues, são costuradas na introdução, mostrando influência de um de seus ídolos: ninguém menos que Stevie Ray Vaughan.

 

Trial Of Tears – álbum Live At Budokan

    Aqui há uma característica fusion bem latente. Petrucci cita uma de suas grandes influências, Allan Holdsworth, abusando mais dos ligados, e rítmica similar a do mestre (articulação essa, que influenciou outros ídolos dele como Vai). Note também, que ele cria em cada acorde da progressão sensações diferentes, interpretando cada um de várias formas, criando belas tensões.

 

The Spirit Carries On – álbum Score (20th Anniversary World Tour)

    Extremamente melódico nesse solo de intro, Petrucci cita o estilo de David Gilmour de forma escrachada, passeando com bends, vibratos e melodias, que nos remetem ao estilo da intro de Coming Back To Life, do álbum The Division Bell, do Pink Floyd.

 

Wither – álbum Black Clouds & Silver Linings

    Nessa eu vou fazer até uma brincadeira: ouça antes o solo de Bohemian Rhapsody, do Queen, e depois ouça o da canção Wither. Duvido você não achar estilisticamente parecido:  uma entrada pomposa, e um clima crescente que te puxa para frente, escancaram a influência de Brian May, do já citado Queen. Curiosidade: é fácil achar no youtube, covers que o DT fez para músicas do Queen, como a trinca Tenement Funster/Flick Of The Wrist/Lily Of The Valley, e a própria Bohemian Rhapsody.

 

 

 

Luan Santana e a intolerância no metal

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     Ao ler essa notícia eu ri. Achei engraçada, e que obviamente era uma trollagem, então vejo que de fato foi postado e pelo próprio: Luan Santana, vai se dedicar ao gênero que diz amar, o metal. Eu sou músico e professor de guitarra. Sei muito bem que muitos músicos para conseguirem pagar suas contas tocam em bandas de sertanejo, de pop, etc (afinal, é um trabalho), e em paralelo se dedicam aos seus projetos tocando o que realmente os motivam e gostam. Logo ao ler isso, achei interessante e corajoso se for levado adiante. Com certeza me despertou a curiosidade, pois acostumamos a ouvir (sem querer, cooooom certeza) seu timbre de voz anasalado e malabares em vibratos tão comuns no sertanejo universitário, e veio a pergunta: como soaria essa bodega? Se ele falasse apenas rock, e fizesse algo mais pop rock, ou até mesmo um hard açucarado tipo Bon Jovi, na minha mente seria mais fácil de imaginar, agora metal? Então estou esperando para ver, pois quem sabe não sai um bom álbum do gênero? Mas aí que reside o fator principal do meu texto: a desunião dos headbangers no Brasil. Uma grande parcela foi postar mensagens de extremo desagrado, dizendo que o mesmo não tem capacidade para isso, talento, que iria desonrar o gênero, etc, etc. Porra! O cara nem fez um acorde sequer, já vem gente crucificando, e o pior: por ele querer fazer o que realmente gosta, que é o metal, que deveria ser um estilo de música (e vida) acolhedor, e não seletivo (seria talvez por isso, que esse sertanejo bem bosta faz tanto sucesso aqui no Brasil, já que querendo ou não, acolhe desde mauricinhos/patricinhas, até os mais humildes?). Headbanger reclama que não tem metal no RIR, que metal não aparece na TV, que não há união da cena, e que a mesma é ofuscada e deixada de lado, mas quando um músico como Luan Santana, que não precisa disso (o cara é mais do que estabelecido no gênero dele, e mais rico do que 99% dos que leem esse texto), resolve arriscar a carreira em prol da vertente que ama, a grande maioria marreta o cara, sem antes mesmo ver se ele manja ou não dos paranauês. Mal comparando, lembro do Alex Skolnick, guitarrista de Testament, que foi criticado por muitos da área do jazz, quando resolveu abordar e tocar o estilo, simplesmente por gostar muito e querer visitar essa paixão.

       Não sou nem um pouco fã das canções do Luan, e nem me agradava o estilo que ele adotou para si, mas torço para que ele seja feliz com essa mudança, passando a fazer o que gosta, e quem sabe isso não traga uma visibilidade para o gênero na TV (Domingão do Faustão?). E quanto aos headbangers mais xiitas, ficou a prova de que o pré-julgamento, o elitismo e desunião são grandes fatores que fazem tal gênero ser tão pífio no Brasil, mercadologicamente falando.

PENTA HARD! Um minuto, um lick!

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    Quantas vezes ficamos presos aos desenhos de pentatônica, com licks mais clássicos, porém, sem desenvolver a mesma por todo o braço, com diferentes visualizações e técnicas? É isso que trago para vocês, nessa série de 10 vídeos-aulas de 1 minuto, com partitura/tab no início, execução lenta e depois rápida. E nesse primeiro vídeo, trouxe um lick em Am que possui um estilo de repetição de notas, feito por guitarristas como Gary Moore na sua fase hard rock, e que hoje ganha vida nova nas mãos de caras como Zakk Wylde. Aqui faço algo um pouco diferente: emprego emendas nas notas mais agudas: desenho 4 e 5, 5 e 1, 1 e 2. Tudo executado em sextina (6 notas por tempo), e palhetada alternada. Tome cuidado com a abertura que de início pode incomodar, e com a palhetada para sair clara. Como é uma região próxima e apenas em 2 cordas, poupe movimento de ambas as mãos. Por fim, cuidado na troca de técnica de palhetada para ligado, e com a  blue-note que coloquei ali.  Até a próxima!

As viúvas do rock/metal

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    “Sepultura acabou em 1996”, “Ah, Deep Purple com Morse, não é Deep Purple”, “Lynyrd Skyrnyd é uma banda cover de si”, e por aí vai. Quantas vezes esbarramos nessas declarações, não é? Hoje ela estão bem mais vivas, com o lançamento do excelente Machine Messiah, que tem um brilhantismo que mostra o amadurecimento, conhecimento, e pegada de uma banda sincronizada. O Sepultura de hoje possui um baterista acima de todas as expectativas, e Derrick achou seu lugar na banda, com um vocal diferenciado e bem agressivo. Logicamente, após a saída do Max, a banda ficou meio perdida com lançamentos fracos, mas também, né? Chegar a esse nível de sucesso e tudo mudar do nada, deve ser bem complicado mesmo, mas há tempos a banda demonstra que se achou (na minha opinião, isso ocorreu no ótimo Kairos), e sejamos sinceros: Machine Messiah nunca teria sido lançado com Max e Igor na banda. Ponto final. Se eles estivessem, seria um álbum melhor? Não sei. Diferente? Com certeza. O que importa é que eu aproveito o que a banda tem de bom a me oferecer musicalmente agora. Sem mi mi mi. Eu não me privo de conhecer o que eles irão apresentar com uma nova formação, afinal, a vida segue em várias esferas: trabalho, relacionamentos amorosos, amizades, etc. O Deep Purple sofreu muito com isso, com a entrada de Steve Morse. O cara já tomou até cuspida no palco! Se não curte a formação, pra que o sujeito sai de casa pra ir ao show, e fazer isso? Enfim… qualidade técnica a ele não falta, e o melhor: Morse devolveu o espírito alegre aos shows do Deep Purple, com aquela onda de improvisos, e ajudou a banda a lançar bons discos, dentre eles o sensacional Purpendicular. A permanência de Blackmore traria o fim da banda, e não teríamos a oportunidade de vê-los com Steve Morse, dando cara moderna a mesma, e shows tão legais. Mas vai o fã boy, e diz que preferia que a banda tivesse acabado. O Lynyrd Skyrnyd nem se fala… com o vocalista Johnny Van Zant (prestando uma bela homenagem ao irmão falecido no fatídico acidente de avião), e o guitarrista Gary Rossington (único membro original, que sobreviveu e está lá até hoje) a banda continua. Gente! Porra! O irmão do vocalista está levantando a bandeira (sem piada com a bandeira dos confederados…), levando as belas canções da banda juntamente de um dos membros que sobreviveram a esse acidente, e pra variar lançando bons discos! Havia uma época em que eu me sentia meio carente de um puta álbum de rock n’ roll, daqueles que só víamos antigamente, e me deparo com os belíssimos  God & Guns e Last of a Dyin’ Breed! Mesmo com todas as adversidades, a banda lançou álbuns que podem figurar entre os melhores, e tem gente que ainda teima e nem se permite ouvir, despidos de preconceitos. Pobres almas…

     Por fim, sabe quando um rapaz namora uma moça por um tempo, pessoal acostuma com aquela dinâmica, mas o relacionamento azeda, termina, ele conhece outra e reencontra a felicidade, dando sequencia a vida?  Então, esses “fãs” tão “fãs” soam como uma tia velha, daquelas bem chatas, que não querem saber se o rapaz está bem hoje, feliz, etc. Fica sempre resmungando: “Não gosto dessa garota! Por mim você ainda estava com sua ex…”. Azar o deles…

Metallica – Hardwired…to Self-Destruct: um auto resumo musical

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    Demorou 8 anos, mas eis que o membro mais famoso do Big 4 lança seu álbum: Hardwired…to Self-Destruct. De cara, não fui impactado como fui ao ouvir o Death Magnetic, que é mais urgente, e demonstrava uma necessidade do Metallica em provar que ainda poderia ser ícone do thrash que ajudou a criar, após o horrendo St. Anger. Ao ir ouvindo com calma, pude notar que o álbum é violento, bem trabalhado, e traz passagens que remetem a todas as fases da carreira, porém com outro tipo de maturidade. Uma observação: eu não sou fã do Load e Reload. Ponto. Acho que se juntassem os dois, teria até dado um bom álbum, mas a pegada soa meio diluída a meu ver. Bem… é apenas o que sinto, porém, o que esses álbuns trouxeram, foram elementos melódicos aos vocais de James (que cantou muito nesse Hardwired!), que não ouvimos nos primeiros álbuns do Metallica. Ou seja, é um álbum que seja intencionalmente ou não, faz um resumo do que de melhor o Metallica fez em seus mais de 30 anos de carreira, e com uma timbragem certeira!

Hardwired: a mais direta, seca e Kill ‘Em All de todas. Riffs simples, e com palhetadas precisas, o arranjo ficou perfeito para o vocal agressivo de James. Só achei um pouco brochante o solo, que me soou muito parecido com outros que Kirk já fez.

Atlas, Rise!: Com uma intro que remete às convenções de Dyers Eve, do And Justice for All, essa canção possui linhas melódicas dobradas e refrão grudento, que ganha força cada vez que é escutada, remetendo bastante ao trabalho de guitarras do já citado And Justice;

Now That We’re Dead: o groove do riff inicial, junto dos bumbos que Lars imprimiu na canção, te remete imediatamente ao clima do And Justice for All (pense na Eye of the Beholder). Um detalhe: isso ocorre muitas vezes durante o álbum, porém, o clima é mais “pra cima” do que no And Justice, e podemos ouvir tranquilamente o baixo, que dá uma baita encorpada no som. Puta musicão!

Moth Into Flame: nessa dá pra notar o mix que citei no início: riffs thrash, que remetem aos primeiros álbuns, aceleradas raivosas, porém, as melodias no refrão remetem um pouco ao senso melódico encontrado nos álbuns Load e Reload;

Dream No More: Puta que pariu! A minha favorita do primeiro álbum, é uma espécie de Sad But True dos novos tempos, mas com uma pegada meio Sabbath e Alice in Chains, e com um vocal diferenciado de James: mais agudo e com certa angústia e raiva. Sensacional! O peso e timbragem da bateria ficaram sensacionais, e tais características permeiam o álbum todo (dessa vez tu acertou Lars, até que enfim!);

Halo On Fire: uma intro típica do Metallica dá vazão a um dedilhado suave, porém, uma vocalização bem diferente do que costumamos ouvir. Talvez essa seja a que mais se aproxime de uma balada, daquelas ao estilo da banda, que vão crescendo. O final com um riff melódico na guitarra e quase épico soou muito bonito, tal qual fizeram em canções como Fade to Black;

Confusion: quase saiu uma Am I Evil aqui (brincadeira). De cara não curti essa canção, mas com algumas audições fui passando a gostar um pouco mais, e notar elementos que remetem a The Day That Never Comes, porém muito melhorada, e sem os exageros da citada. Além de ser mais pesada.

Manunkind: eu simplesmente me amarrei nessa música! O Metallica fazendo rock n’ roll! Riffs setentistas e levada blues/rock, com um peso extra e umas belas quebradas de tempo, fazem dessa uma das mais legais do álbum! E ainda tem o clipe com referências ao black metal, que ficou sensacional!;

Here Comes Revenge: Após uma intro que remete ao clima de Leper Messiah, a canção ganha um groove que me remete um pouco ao Death Magnetic e toques do Black Album até, alterando em vocalizações mais melódicas (outro momento que me remeteu ao Load/Reload), até chegar num refrão bem legal;

Am I Savage?: a intro te engana que vem uma balada, mas a canção entrega o track mais Black Sabbath do álbum (ouça só Lord Of This World, e note o espírito), além de um dedilhado no meio que me deu a sensação que James deu uma escutadinha no Rust in Peace do Megadeth (não vejo problema algum!), e o final pesado com toques modernos na guitarra, com harmônicos naturais, é de bater cabeça!;

Murder One: a bela homenagem ao Lemmy, começa com belo dedilhado a lá And Justice for All, mas deságua num puta rock n’ roll, extremamente pesado! Lars parece que tocou com uma bigorna!!! Além de possuir o melhor solo do álbum, o que me soou interessante é que a canção tem um toque de Motorhead, mas soa como Metallica! Bela homenagem!;

Spit Out The Bone: acredito que essa seja a canção que muitos esperavam deles desde o fim dos anos 80, pois possui tudo que o fã de thrash gosta: riffs rápidos e pesados, vocais raivosos, várias partes que se encaixaram perfeitamente e bumbo duplo em vários trechos. Spit Out The Bone fecha o play da melhor forma possível!

    Por fim, é muito gratificante ver o Big 4, num período de um ano, lançar álbuns muito bons e maduros, algo que merece palmas numa época em que o metal fica cada vez mais infantilizado, bobo, e não-orgânico.